Sarrafo de 2019 contamina avaliações, mas faltou agressividade e imposição ao atual campeão em duelo onde sofreu demais diante de um Racing combalido em Buenos Aires. Competitividade é ponto positivo
Um Flamengo com cara de Libertadores, mas sem cara de Flamengo. Ao menos não do time que fez da imposição técnica e agressividade marcas para vencer a competição em 2019. O empate por 1 a 1 com o Racing, em Avellaneda, foi conquistado na raça, no embate físico e no lampejo do que houve de melhor no ano passado: a dupla Bruno Henrique e Gabigol.
O comparativo é o ônus para quem fez história e entrou em campo com oito dos 11 titulares da conquista de um ano atrás. Jogar menos do que é capaz, por sua vez, não diminui o fato de que o Flamengo desembarca nesta quarta-feira no Brasil com um bom resultado na bagagem e uma semana para treinar, se classificar e convencer na decisão da próxima terça-feira.
Depois das façanhas do time de Jorge Jesus, a impressão é de que qualquer análise deste Flamengo apresenta um copo meio cheio e outro meio vazio até que se entenda qual a altura real de um sarrafo justo. E a parte cheia do que se viu em Buenos Aires passa muito pelos atacantes.
O Flamengo das duplinhas de 2019 teve Bruno Henrique e Gabigol sintonizados. A jogada do gol foi o flashback perfeito, mas houve outros momentos em que o camisa 27 chamou a responsabilidade pela esquerda (em um deles acertou lindo chute no travessão) e o camisa 9 participou com sua já conhecida movimentação.
Outra dupla que foi bem na Argentina foi a de volantes. Willian Arão e Gerson desafogaram a saída de bola bem marcada pelo Racing e conseguiram ajudar na construção do meio de campo. Quando o jogo ficou mais físico, também souberam se impor. E os elogios ficam por aí.
Mais postado em seu campo do que de costume, o Flamengo parecia mais preocupado em marcar do que o normal, mas isso esteve longe de representar segurança defensiva. As muitas faltas marcadas por Alexis Herrera tornaram cada bola levantada na área uma preocupação, e as tomadas de decisão erradas dos zagueiros muitas vezes permitiam que o Racing tivesse espaço.
O lance do gol de Fértoli é um exemplo de botes precipitados de Léo Pereira e Thuler, ambos fora de posição. Zagueiros que seguem sem passar a confiança necessária para equipe – o que não exime Diego Alves, Filipe Luís e Gérson também de responsabilidade na jogada que abriu o placar.
Quando teve a bola e foi agressivo no campo de ataque, o Flamengo criou oportunidades diante de um Racing nitidamente respeitador ao campeão da América. Mas faltou constância e o resumo da partida no Cilindro foi um empate bom para o mata-mata, não pela performance.
Teve cara de Libertadores. E teve um Flamengo que ainda procura sua nova cara.
Por Cahê Mota