Por Professor Pedro Neto (Professor Lé): Seu Antônio… Cumpadi Antônio… Você faz muita falta!!

Por Professor Pedro Neto (Professor Lé)
Antônio Medeiros   

Estava falando em Agenor e veio à memória, a figura extrovertida, simpática e amiga de Antônio Medeiros. Antônio era como ele mesmo dizia: “Cumpadi, se não tiver festa, eu faço”. “Eita saudade danada do velho Antônio!”

Ele veio de Patos, mas precisamente lá da Quixaba. Seu primo e cunhado, Zé Medeiros já trabalhava por aqui. Tempo das usinas. Tinha usina de algodão… Ainda tinha o alambique. Era morder o pião; água do cão e tantos outros… Ele gostava da branquinha. Tomar umas bicadas com Antonio, era uma festa. Não dava nem tempo ficar bêbado. Era só alegria. Aí chegou Antonio. Ele disse que começou sua vida como vaqueiro. Uma vez perguntei: Gostava da profissão?  Respondeu: “Ruim era cagar de esporas”. Falava e dava risadas. Alegria era o nome de Antonio. Sua vida… Era uma vida de verdade.

Convivi de perto com Medeiros. No exército, era esse seu nome de guerra. Sabia os nomes de todos os soldados do seu pelotão e a cidade cada um. Quando indagado, sabia muito mais do seu tempo de exército. Por falar em soldado, contou-me uma das suas. Estava viajando Patos para Quixaba. Dia de feira. Suas compras, dentro de um saco, estavam na carroceria do caminhão. De repente, subiu alguém e sentou, logo em cima de sua feira. De imediato, Antonio gritou: “Ei caba aí em cima não”… A alguém querendo ajudar disse: “Cuidado que ele é soldado”… Antônio: “Eu quebro ele mesmo na emenda”. Nesse momento que estou digitando… um sorriso no meu rosto e a vontade de chorar. Antônio… que figura!

Sim. Privei de sua amizade. Como era bom visitar mestre Antônio. Existia uma amizade pura, verdadeira. Uma só coisa me entristece (parodiando Fagner), não ter conhecido Medeiros antes. Cheguei a vê-lo muitas vezes nas ruas de Catolé. Não o conhecia de perto. Uma certa vez, no bar de Celi de Manezinho (era o contrário. Manezinho de Celi), ele me cumprimentou. Fiquei muito feliz. Sempre tive o sonho de ser seu amigo.

Trabalhou muito tempo com o pessoal de Chico Sérgio (irmão de Zé Sérgio). Contou-me certa vez que foi buscar os filhos de Serginho na escola Francisco Mendes. Sentou na calçada. Camisa aberta. Barriga proeminente. De repente, chegou uma freira e perguntou: “O senhor tá esperando menino?” Ele respondeu: “Não senhora. É porque meu bucho é grande assim mesmo”. Perguntei: É verdade essa história? Ele: “Verdade que eu estava buchudo?”… Risadas. Eita!!! O tempo voa…

Antônio trabalhou muito, dirigindo o jeep do Padre Américo (irmão de Zé Sérgio). Nessa época o Padre morava em Cajazeiras. Ele me falou que o Padre era muito bom. Eu só não gostava era porque o povo me chamava Antônio do Padre… Ficava desconfiado!! Ele disse: “Nesse tempo arranjei muitas namoradas por lá”. Parou de falar. Perguntei: Porque ficou assim cumpadi. Ele: “Saudades delas. Principalmente de Ivone”. Os olhos dele estavam lagrimejantes. Esse era Antônio. Ora alegre. Ora Chorando.

Trabalhou 50 anos como motorista. Foi sua vida. Vida bem vivida. Conversava com um companheiro, que perguntou: “Fez um pé de meia bom, Cumpadi?”. Antônio: “O que ganhei tá no bolso”. O companheiro: “O dinheiro?” Antônio: “Os documentos”. Era feliz! Aprendi muito com aquele velho sábio das estradas.

Um certo dia eu estava conversando com ele, quando chegou um antigo companheiro das estradas (era lá de Pombal). Conversa vai… conversa vem, o visitante perguntou: “Tá bem seu Antônio? Ele: “Cumpadi, vamos deixar a consideração pra cachaça”. O amigo perguntou: “E a situação”?… Você não respondeu. Antônio: “Tá… Tá… Agora comprei em que dormir”. O colega motorista: “A casa?”. Antônio: “Não cumpadi. Comprei essa rede”.

Antônio Medeiros teve uma passagem, na antiga empresa Patoense. Perguntei se ele tinha gostado. Respondeu: “O motorista de ônibus é como galinha amarrada pelo pé, só vive puxando a gravata”.

Cumpadi Antônio deixou muitas histórias pelas estradas e postos de gasolina do Brasil. Muitos caminhões têm a marca de Antônio nos famosos lameirões. Por falar em lameirão, lembrei da história da rural. Ele gostava de andar pelas ruas da cidade, quando estava de folga. Passando pela Rua Antônio Ferreira (famosa Rua de Rita de Biná), encontrou um antigo caminhoneiro que morava em Belém do Brejo do Cruz. Antônio já estava saindo, quando seu velho conhecido, falou: “Diga uma frase pra eu colocar aqui no lameirão!” Antônio olhou pra rural e disse: “Foi essa onça que comeu meus bodes!”. Explico. O proprietário da rural falou pra ele, que tinha vendido uns bodes pra compra aquela rural. Já arrumando a rural para fazer a “linha” de Belém à Brejo do Cruz. Ah Antônio!!! Sim! Voltando a Patoense. Antonio estava saindo de João Pessoa quando adentrou o ônibus, um antigo motorista da empresa. Alegria. O cobrador (existia sim) ouviu a conversa entre os dois. Era hora de cobrar as passagens. Aí perguntou: “Seu Antônio, eu cobro de Costa?” Antônio: “Não. Você pode machucar os passageiros. “Eita Antônio, se eu fosse falar tudo que de você, faltaria folha e a caneta ficava sem tinta. Mas o tempo passa. As pessoas envelhecem. Uma certa vez, conversava com ele e aí: “Cumpadi, você sabe pra que velho serve?” Não! Não sei. Ele falou: “Velho só serve pra ouvir segredo porque escuta e esquece”.

Estava circulando pelas ruas de Catolé e entramos no Bairro Santa Clara, encontramos  Romero (filho dele. Extraconjugal.) Ele falou: “Romero tá ficando doido”. Fique calado. Medeiros disse: “Toda vez que me encontra pede dinheiro”. Aí deu aquele sorriso que só ele sabia dá. Já que falei em Romero me lembrei dessa historinha. Antônio estava viajando. Chegando de viagem, alguém disse que o menino (Romero) havia nascido. Alguém falou que o menino não era seu filho. Antônio ficou calado. Outro motorista: “E aí?”. Antônio: “Tragam uma bacia e coloquem o menino, se ele nadar é meu, se não nadar é de peixinho (falaram pra ele que estavam dizendo que o menino era filho de peixinho que também era caminhoneiro).

Na Rua Monsenhor Constantino onde Medeiros morou por tempo (falei em Agenor, no início), morava Agenor que era pintor de parede e gostava de morder o pião. Sempre que tomava umas “lapadas” de cachaça, indagava (sempre olhando para o Monte Tabor): “Diga seu Antônio, o que é GEOMETRIA e porque a terra tem dois pólos?… Antônio: “Eu sei onde fabrica cachaça!”

Seu Antônio… Cumpadi Antônio… Você faz muita falta!!

Aí; uma coisa; perguntou; tempo; respondi; estava arrumando; sei; esquece; entrando; um.

Por Professor Pedro Neto (Professor Lé): Antônio Medeiros   

Uma foto histórica mostra Antônio Medeiros, Antônio Reis e depois Auderi de Brejo do Cruz ao lados dos imortáis caminhoes Mercedez Benz – Foto:Arquivo da Família de Seu Auderi Fernandes 

     

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