Conheci Geraldo Preto, lá no campo do Tabajara (já foi Beneditão). Ao lado do campo principal, existia um campinho (época de inverno, o caminho ficava escorregadio. Apenas um lado. Joguei lá. Cai, mesmo dentro da lama. Short branco! Todo sujo. E agora? Bom, agora era enfrentar a situação. O resto você já sabe!
Eu estava falando em Dom Simões. Para alguns, era Geraldo Preto na verdade, naquele tempo (década de 70), era Geraldo Preto mesmo. Esse Dom Simões, apareceu muito tempo depois (epíteto dado por meu tio Marcos de Sininha ou Juraci de Seu Anísio). Sim, existia o campinho, palco de muitos jogos. Tempo de bons jogadores. Tinha atleta sobrando! Naquela época, existiam muitos meninos e pouca competição. Falava no campinho! Ao lado deste mini-campo, ficava a casa de Dom Simões, ou melhor, Geraldo Simões. Ele sempre jogava com a rapaziada. Foi sempre um líder. Negro forte! Sempre depois das partidas de futebol, adorava disputar corridas no campo do Tabajara. Seu principal adversário era Zé Negão, hoje, vigia do CAIC (Naquela época, era Zé de Seu Expedito).
Geraldo Preto desempenhou várias atividades na sua vida. Precisava criar a turma, que era grande. No tempo da casinha ele tinha poucos filhos. Além do futebol ele também participava de lutas de boxe (tempo de Almenas, funcionário do BNB). Sim, falava na prole do casal, Geraldo Preto e Francisca. Esta sempre, ajudava minha mãe nos afazeres domésticos. Naquela época, a turma da casinha era: Lourdes, Geraldine e talvez Neto. E César? Este é manso. Não sei se nasceu na casinha do Tabajara. Ainda tem: Ildevania, Indeneide, Diassis (in memoriam), Pebinha (não sei qual seu nome verdadeiro), Denise e Luana. A lista não está na ordem cronológica. Família grande! Dom Simões (agora), “ralava” para colocar o pão na boca da filharada. Fez de tudo nesta vida: Cabeceiro na usina de algodão; carroceiro (vendia água para os habitantes de nossa cidade); vigia; torrador de café (café Catolé) e outros mais. Era dureza! Vida dura sim, mas ele nunca perdeu sua “cancha”. Era um homem da luta. Tive oportunidade de conviver com esta figura ímpar de nossa cidade. Tomamos muita CATUABA juntos, alí nos barracos do mercado. Minha família ia para o sítio e eu ficava na casa do nego véi (gente boa, esse Geraldo). Mão de onça, era outro apelido carinhoso do velho treinador. Geraldo tem história!
Parece que Geraldo, era filho natural da cidade de Pombal. Conheci um irmão dele, Zé, que era motorista de táxi na terra de Maringá. Além das corridas no campo do Tabajara, ele gostava de praticar luta livre após os treinos. Tive oportunidade de “enfrentá-lo”. Tinha muita força. Triste daquele, que fosse atingido por suas manzorra. Era dor!
Nos anos 70, ele formou uma equipe de futebol (Grêmio). Naquela época, Catolé tinha muitos jogadores. Existia naturalmente uma espécie de segunda divisão em nosso futebol. Os times principais: Tabajara, Estudante (esse participava mais do futebol de salão, como era conhecido naquele tempo), ABC (Bairro da Liberdade), Catolé e posteriormente apareceu o América (time fundado por Seu Dito do Bairro da Várzea e o vereador Erivan Barreto). O Grêmio fazia parte da famosa (não existia ranking), segunda divisão, juntamente com o Varjão, Corrente, Batalhão, Confiança (Rancho do Povo) e outras equipes do nosso futebol. Tempo bom! Ninguém ganha dinheiro para jogar. Difícil mesmo era até conseguir uma bola. Era bem diferente de hoje, onde existe muito material para a prática do futebol e poucos atletas para usá-lo.
Naquela época, o nosso futebol tinha muitos amistosos e poucos torneios e campeonatos. Por falar em torneio, lembrei! Ah, campeonato municipal! Essa história terminou na cadeia. Jogo envolvendo Grêmio de Dom Simões e o Varjão de “Meio Pão” e companhia. Sonhonhon, atleta do Varjão fraudou a carteirinha… Fomos parar na Delegacia de Polícia. Eu (Lé), Geraldo Preto, Galvão de Nilo (árbitro do jogo) e o representante do time da Várzea (não lembro quem era o tal representante). Agora lembrei! Era “Meio Pão”, na época, cunhado do Sargento Delegado. Vantagem para o Varjão! O time rubro-negro já saía na frente no placar do jogo. Sim, Sonhonhon era Antônio Carlos, da Silva? Talvez, nem ele mesmo soubesse seu nome de origem. Era Sonhonhon! Na Delegacia tentei esclarecer tudo. O Delegado (era um Preto, rechonchudo e mal educado), estava irredutível. Ele era torcedor do Varjão. Mostrei o regulamento da competição. Nada! Apresentei o código disciplinar de futebol. Ele nem olhou! Já estava com o resultado do famoso julgamento na cabeça, ou melhor, no papel. Ainda teve o desplante de ameaçar prender o Velho Dom Simões. Na verdade, ele disse que prenderia todos, menos o representante do Varjão, claro, o seu time de coração.
Uma saída para o impasse, depois de muito blá-blá-blá: Um acordo foi feito.
Até que enfim, solução! O Grêmio (equipe prejudicada), aceitou o tal acordo: recebeu 100 cruzeiros. Seria esse mesmo o dinheiro da época? Ora, eram 100 cruzeiros e uma bola. Para aquele tempo, excelente prêmio! O Grêmio estava fora da competição, mas feliz com a premiação. A decisão foi entre o Varjão de Sonhonhon, “Meio Pão”, Miguelzinho, Neco e outros do bairro da Várzea. O adversário do time do coração do Sargento, era o Catolezinho de Alemão (treinado pelo autor do texto). O time do Varjão saiu na frente no marcador: 2 X 0 no primeiro tempo. Festa do rubro-negro que além do bom futebol, tinha agora o apoio do militar torcedor. Será que ele estava no campo? Não sei! Na verdade, ele deve ter ficado muito triste! No segundo tempo, o tricolor comandado pelo “endiabrado” Tatinha lá da terra de Dr. Lauri (Brejo dos Santos), virou o placar (o Catolezinho era da categoria infanto-juvenil) e fez a festa no Beneditão! Pode? Sim. A festa foi tricolor. O time de Alemão venceu por 4 X 2. Castigo para o Varjão! Dom Simões estava de alma lavada: 100 cruzeiros e o Varjão derrotado. O Grêmio ainda ganhou uma bola. Já pensou, se fosse hoje este fato, no momento do tão inflacionado futebol catoleense?
Ainda falando no Grêmio de Dom Simões Geraldo Preto, fomos campeões do torneio Intermunicipal da cidade de Brejo do Cruz. Dom Simões, sempre usava uma toalha ou uma camisa enrolada no pescoço. Fez, e tinha história essa figura lendária de nosso futebol.
Tive oportunidade de conviver com este expoente da história futebolística de nossa Catolé. Ele foi tudo e mais um pouco no Reino que era só seu… alí ele, era ele: árbitro, bandeirinha (auxiliar), atleta, treinador, dirigente e… alí ele era Gege! Gostava de falar seu próprio e famoso Gege, que vinha de Geraldo, que era Simões Pereira.
O tempo passa e não espera! Geraldo, negro forte, acometido de uma doença, não resistiu. O famoso pé de valsa (era bom de forró), foi morar no céu. Francisca, sua companheira de tantas lutas o esperava. Juntos estão na companhia de nosso Pai Criador. Por aqui só saudades. Depois da partida de Geraldo Preto Simões Gege da Silva, o Tabajara nunca mais foi o mesmo. Dom Simões, não está mais lá. Alí, a bola não é feliz. Ela sente a falta do velho treinador. No Tabajara, Geraldo Preto era Dom Simões!
Por Professor Pedro Neto (Professor Lé)