Por Professor Pedro Neto (Prof Lé): Mané Sulino

Morava nas imediações da antiga UBAT (União Beneficente dos Agricultores Tabajarinos), hoje, Centro de Cultura Geraldo Vandré. Negro “véi” de muitas primaveras (anos). Cabelos brancos! Já velhinho, ficava sempre em casa. Era merecedor de um bom sossego, depois de tantos anos de trabalho forçado. Verdade! Ele só queria paz. Mas, mesmo necessitando de tal paz, não a encontrava. Era sempre incomodado pelos transeuntes. Naquele tempo, isso era “quase normal”. Ainda hoje, alguns, usam tal procedimento, para prejuízo e dor de seres indefesos.  São pessoas colocadas em segundo plano, ou até mesmo, sem plano, neste mundo sem plano, chamado vida. Eles, os normais, acreditam que podem triturar em de sua bestial felicidade, a vida de pessoas indefesas.

Conheci Mané Sulino. Achava estranho, aquele quadro, pintado com as cores da amargura, dor e muito sofrimento. Pessoas que se regozijavam com o sofrimento daquele ancião. Eram duas, suas filhas. Talvez existissem mais filhos. Não sei. Eram duas pretas robustas: Djalma, mãe do “Neguin de Djalma”, que assassinou Dilila de Chico de Ciro (Dilila era músico). Todos moravam nas imediações da UBAT.  Valdelice, nome verdadeiro de Dilila, filho de Chico de Ciro, marceneiro, que também era músico. Era integrante da orquestra sinfônica do nosso município. Até hoje não sei o motivo de tal crime. Como todos os crimes, a explicação não existe. Ou existe?

Djalma, mãe de Evaldo, teve morte trágica. Cometeu suicídio. Era inquilina dos antigos “quartos” de Zuza Bolacha, instalados na rua Américo Hermenegildo (pertinho da bodega de “Seu” Basto, meu genitor). Triste fim! Era mais um ser abandonado, abandonada à própria sorte, neste mundo, onde o filho do dono, não tem dono. A outra filha de Sulino, era conhecida como Maria Preta, que trabalhou, por muito tempo, na residência do causídico, José Hercílio Maia. Maria Preta, era de Bira, que tinha a alcunha de “Jarrão”. Ela tinha uma característica, talvez, herdada de seus ascendentes: Ela não usava talheres, quando estava efetuando sua alimentação. Ela, também foi morar no céu, depois de tanta luta aqui na terra.

Mané Sulino, motivo de alegria para alguns e sofrimento para outros, era descendente de escravos (Catolé, teve muitos). Teve uma vida, marcada pela labuta desenfreada e conduzida pelo cipó de arueira, que está bem definida na música de Geraldo Vandré, nome do Centro Cultural, localizado, perto da antiga residência do velho ancião, motivo de chacota, por parte de incautos e “pacatos” cidadãos. Este momento triste, mas sinônimo de alegria para outros, causava muito dissabor ao pobre velhinho. Este, era um momento de muita felicidade para os “normais”, que acreditavam, ser tudo aquilo normal. Os abusados transeuntes, sempre usavam de um assobio, acompanhado do famoso bordão, “topa touro”, para irritar o tão sofrido velhinho, marcado pelo tempo e pela sofrida.

Ele, indefeso, sempre tinha a mesma resposta, marca de sua revolta: “Topa touro é a mãe”.

O tempo que corre, passa para todos. Mané Sulino, alegria de muitos e preso à sua própria sorte (sorte?), foi para o repouso eterno. Lá, no amparo do Pai Criador, Mané, agora feliz e distante das pessoas perversas, onde coração é a caixa ressonante da maldade, pode viver em paz.

Hoje, mesmo com as mudanças ocasionadas pela atenção de poucos, este tipo de maldade, ainda existe. As autoridades pecam, e muito, quando a “vítima” é vítima dessa sociedade desumana, chamada de terra do Deus dará…dará, o quê?

 

Texto: Professor Pedro Neto (Prof Lé): Mané Sulino

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