Os anos 60 e 70, época de ebulição na política tradicional e estudandil na nossa Catolé dos cocos e dos Rocha de Oliveira, família, da qual, também sou descendente, já que, sou tetraneto de Francisco da Rocha Maia que era filho de Ana Rocha de Oliveira, conhecida pelo epíteto de Ana Gorda ou Ana bela.
Qual a relação deste preâmbulo com tudo que será falado aqui? Logicamente, a relação da pessoa em destaque, e os fatos existentes. Só depois de muito tempo, descobri que também existe laço de família em nossa existência. Eu, sou tetraneto de Francisco da Rocha Maia que era filho de Francisco Alves Ferreira Maia, filho Antônio Ferreira Maia, filho do português Francisco Alves Maia que casou com Teodosia, filha do Português Bento de Araújo Barreto, que residia em Goiânia, Pernambuco. Já, meu companheiro e amigo de tantas jornadas, era filho do Velho Chiquin Suassuna, filho de Dolores Maia, que era filha de Enéas Olimpio Maia, filho de Francisco Severiano Maia de Vasconcelos, filho Cesário Maia de Vasconcelos, filho de Domingos Maia que era filho do Português Francisco Alves Maia. Somos então, todos descendentes de Francisco Alves Maia, o português.
O Grecesc (Grêmio Central dos Estudantes Secundaristas Catoleenses), filiado à UNE ( União Nacional dos Estudantes), estava adormecido, em decorrência das ações truculentas de uma ditadura escritas com letras minúsculas. Foi aí que Estudantes sonhadores e desejosos de um novo tempo, entraram em ação, almejando dias melhores para tão amedrontado povo.
São muitos, os nomes ligados aos movimentos estudantis de nosso município. Não vou citá-los, para não cair em omissão. Eu, menino inocente, vindo da zona rural, observava aquele caldeirão ( prisões, passeatas, etc), w sentia uma imensa vontade de estar naquele meio. Era atraente e cativado o barulho ou o silêncio que reinava no seio da comunidade Catoleense.
Bom, o menino, católico fervoroso , que integrava o grupo de Coroinhas do Colégio Francisca Mendes, comandado pela saudosa Irmã Margarida, cresceu e viu sua vida transformada, através da leitura de livros, entre eles, um do Pernambucano Chico Julião, expoente das Ligas Camponesas. Este livro, estava sempre com uma capa branca, para que não fosse identificado pelos ” dedos duros” de plantão, sempre bisbilhotando nossas vidas.
No ano de 78, estávamos sofrendo também, muita influência dos grupos de rock e das músicas de protesto, principalmente na voz de Geraldo Vandré, Taigara e outros nomes ilustres da MPB. O movimento hipiie estava no auge e acalentava nossos sonhos. Em Catolé, a presença de Arionildo( filho de Arione), na época, estudando em Recife, veio mostrar um novo tempo para alguns jovens de nossa cidade. O sonho de liberdade estampada nos cabelos longos, roupas jeans e nos tamancos barulhentos, despertavam os desejos de muitos, sempre oprimidos pelos costumes locais.
Depois de tudo isso, vou reportar-me a figura de grandiosa de mais um amigo, que foi para a casa do Pai Criador. Foram tantos, e hoje, são tão poucos meus amigos de verdade! Apesar de estarmos na mesma cidade, estávamos separados pelo muro do tempo que não sabe esperar. É Zezin, Cazuza tinha razão! O tempo não pára! Fomos engolidos pela máquina deste tempo impiedoso, que nos consome e pune, cúmplice deste mundo talvez sem dono, nesta terra dos Deus dará, pintado sem o pincel e a tinta da verdade.
Zezin para os íntimos, Rony Von para os companheiros, José Suassuna Barbosa, filho do Velho Chiquin, é nome da própria história. E esta história, estampada nos anais do mundo Estudantil, teve em 1978, seu berço, altivo, legítimo e feito por pessoas que só queriam um mundo melhor.
Era 1978, estávamos no famoso CIENTÍFICO, para alguns o ensino era médio, ou não? Eu conhecia Rony Von de vista( é assim que se fala por aqui). Via o “Gringo” ( outro apelido que ele absorvia), circulando nas noites barulhentas da Praça Sérgio Maia, sempre envergando a camisa número 9, usada no Flamengo pelo Argentino Doval , que também carregava este apelido, doado pelos radialistas esportivos deste Brasil, berço do futebol. Novamente, veio à mente, este 1978, Marco profundo na história da política Estudantil de nossa cidade verde do sertao paraibano.
A Comunidade Estudantil de nossa cidade dormia em banho maria. Tudo era silêncio! De repente, estourou entre os estudantes, algo novo. Estudantes que pensavam e queriam um mundo diferente, queriam o Grecesc aberto! A UNE estava bloqueada pelos mandantes da opressão. Ninguém podia falar!
José Suassuna Barbosa, antes apenas um conhecido, agora era um companheiro, valoroso e corajoso, nas ideias e atitudes. Duas chapas estavam registradas para concorrerem a eleição do Grêmio. Numa delas, constava o nome de Rony Von, sendo que, na cabeça, Rusiel Fausto, era candidato a Presidente. De repente, surge novidade. José Suassuna foi alijado da tal candidatura. Motivos fúteis, alegados pelos companheiros, excluíram o pretenso candidato . José, agora Rony, seria o responsável pela derrota da tal chapa, no entendimento dos articuladores de plantão. Mas no final da eleição, parece que Zezin da Maniçoba, não foi ou não era o causador da derrota. Entre três chapas concorrentes, aquele que abandonou José Suassuna Barbosa, ficou em terceiro lugar, alcançando apenas duzentos e poucos votos. A chapa encabeçada pelo autor, tendo com vice o filho da Maniçoba, obteve: 999 votos. Faltou o seu voto, para chegarmos a mil! Talvez você não acredite! Mas minha alegria maior, foi derrotar o grupo que não soube respeitar um ser humano de muita grandeza. Mesmo com os achincalhes, muito desrespeito e agressões gratuitas, soubemos caminhar nos trilhos da verdade. Caminhamos sempre pautados pelo respeito e seriedade, mesmo enfrentando todos os dissabores possíveis e impossíveis.
Um fato interessante acontecido logo após o lançamento de nossa chapa, foi a atitude dos ex-companheiros de Rony Von, praticamente exigindo que meu nome fosse retirado da chapa. Não aceitei tal proposta! A resposta das urnas mostrou que Zezin não era o culpado! Zezin foi vencedor!
Eleição consumada. Amizade consagrada. Nossos valores tão contestados por alguns, foram reveladores e eficazes numa vitória legítima e consagradora. Um laço de amizade, construído no período eleitoral, reinou para sempre em nossos corações, maltratados pelos agruras do tempo, mas solidificados numa existência, feita de dedicação e bravura, neste mundo tão desigual . A dignidade, responsabilidade, simplicidade e a verdade campearam nossas existências , mostrando que, os cabelos e a roupa não servem de avaliação para verdadeiros seres humanos. Foi esta a lição que em nossas vidas, depois dos abusos que sofremos numa campanha, onde a maldade não venceu a bondade. O reconhecimento da comunidade Catoleense fortaleceu nossos corações. Nossos valores desconhecidos por alguns mas estampados por muitos, na verdadeira cara do povo do jeito que ela é.
José Zezin Suassuna Rony Barbosa era um companheiro leal e verdadeiro. Ele, jamais do espaço reservado aos amigos de verdade. As lágrimas que jorram dos meus olhos lacrimejantes, são verdadeiras e nasceram nos labirintos do meu coração.
Texto:Professor Pedro Neto (Prof Lé)