Fundador do The Intercept Brasil foi denunciado pelo MPF por suposta associação criminosa e interceptação telefônica ilegal
A denúncia do jornalista Glenn Greenwald na operação Spoofing, nesta terça-feira (21), causou perplexidade entre jornalistas, juristas e políticos. A investigação apura invasões de celulares de autoridades, entre elas, os integrantes da Força-tarefa da Lava Jato. Além de Glenn, seis outras pessoas foram denunciadas. No caso do fundador do The Intercept Brasil, a denúncia é de associação criminosa e interceptação telefônica ilegal.
Só tem um problema nessa história toda. O jornalista não foi investigado, não foi indiciado e o ponto alegado pelo procurador Wellington Oliveira para justificar a inclusão de Greenwald no rol dos suspeitos não passa de um triplo carpado hermenêutico, incapaz de convencer qualquer pessoa de inteligência mediana. O MPF diz que Glenn “auxiliou, orientou e incentivou” o grupo de hackers suspeito de ter invadido os celulares de autoridades.
O problema é que a transcrição da gravação usada como prova, com a conversa entre o jornalista e um dos hackers não dá suporte à acusação feita. Pior: a própria Polícia Federal, responsável pelo inquérito, concluiu que o relatório feito com base nos diálogos interceptados não são suficientes para indicar o envolvimento do jornalista na invasão dos celulares.
E como se esse não fosse um fato grave demais, ainda tem uma decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que proibiu a investigação do jornalista. O ministro, inclusive, se pronunciou sobre o assunto nesta terça e considerou grave a iniciativa do procurador. Uma clara desobediência à decisão proferida por ele em agosto do ano passado.
“É um ataque contra a imprensa livre, obviamente, contra a nossa reportagem, mas também contra a Polícia Federal e o STF, que disse que eu não posso ser investigado, muito menos denunciado pela minha reportagem, porque é uma aberração do direito constitucional de uma imprensa livre”, declarou Greenwald, em vídeo postado em rede social.
O site The Intercept foi responsável por uma série de reportagens, junto com outros veículos de imprensa, que arranhou a imagem da principal operação comandada pelo Ministério Público Federal no país, a Lava Jato.
O ministro Marco Aurélio Mello disse ver a denúncia como problemática e perigosa. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), viu ataque à liberdade de imprensa. A denúncia do MPF foi distribuída ao juiz federal Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal de Brasília. Ao analisar o documento, ele poderá receber ou rejeitar as acusações contra cada um dos sete denunciados.
Blog do Suetoni
LIBERDADE DE IMPRENSA Onde estavam as vozes que hoje defendem Glenn quando Ricardo Coutinho perseguia jornalistas paraibanos?
Recebi com grande júbilo, meu caro Paiakan, a manifestação de algumas vozes na Imprensa, em defesa da liberdade de expressão, no caso do jornalista Glenn Greenwald, que foi denunciado pelo Ministério Público Federal por conta da utilização de material hackeado dos celulares de várias autoridades do País. O episódio ficou conhecido como Vaza Jato, já que envolvia integrantes da Operação Lava Jato. Fiquei comovido.
Mas, poderia ter ficado ainda mais feliz, meu caro Paiakan, se essas mesmas vozes tivessem se manifestado nos últimos anos, quando da perseguição fascista imposta pelo ex Ricardo Coutinho contra vários jornalistas e mulheres, entre as quais Pâmela Bório e Laura Berquó.
Houve de tudo nesse período particularmente perverso da História recente da Paraíba: intimidação de jornalistas, talvez cooptações, coação de empresas para demitir profissionais, constrangimentos em coletivas e um festival de ações movidas contra profissionais de Imprensa. Aos montes.
Havia, inclusive, um mecanismo em que um dos advogados, Francisco das Chagas Ferreira, era remunerado pelo governo do Estado e também mantinha contratos com organizações criminosas e prefeitos aliados do ex-governador, para processar jornalistas. Ele se tornou especialista em processar jornalistas. Informação que, aliás, consta dos documentos do Gaeco e do despacho do desembargador Ricardo Vital, no âmbito da Operação Calvário 7.
E o mais grave: todos os processos movidos pelo ex-governador e Chagas eram motivados por denúncias que, agora, estão todas comprovadas pelas investigações. Ou seja, o mecanismo funcionava para tentar calar os profissionais de Imprensa que ousavam dizer a verdade sobre o que Ricardo Coutinho, na condição de chefe da organização criminosa (segundo seu comparsa Daniel Gomes), patrocinava de saque aos cofres públicos.
Mesmo assim, meu caro Paiakan, não me recordo dessas vozes terem se manifestado em defesa da liberdade de Imprensa dos profissionais que eram massacrados pelo ex-governador com sua prática fascista. Que pena estivessem tão afônicos quando tantos profissionais eram supliciados pelo chefão da organização criminosa desbaratada pela Operação Calvário. Hoje, são vozes tão estridentes…
Por Helder Moura