Por quê Marinete? No mundo dos carros, era um veículo velho, muito usado. Ele sempre estava presente nos bares . Agora, sem a Marinete. Seu companheiro inseparável, era o famoso chevete verde. Ele era Antônio da Marinete. No mundo dos boêmios, Antônio, era o Major. Agropecuarista. Morava no sítio Mendonça. Morava? Era frequentador dos bares da cidade. Adorava uma mesa, desde que nela existissem garrafas, cheias, é claro. Marinete, adorava “morder o beiço ” do copo.
Tive oportunidade de visitar seu sítio. Certa vez, estive lá na companhia de Zé Maria de Elias do queijo, companheiro de velhas jornadas, ou melhor, velhos carnavais. Visitantes sem convite. Ainda indague: ‘Conhece o Major?”——Aspas para José: Ele é meu amigo. E agora? Fui! Estávamos por trás do balde do açude. Zé Maria, feliz da vida, tomando banho com água de coco, quando de repente, chega Marinete: ” Vocês está aqui com ordem de quem?”—– O banhista (Zé Maria), gago Dr. nascença, falou: “Vim aqui tomar um banho, Major”. Marinete, irritado, disse:” Tomar banho, logo com água de coco?”—–Zé Maria, gaguejando como sempre, retrucou: ” A água de coco é doce e o banho é melhor. Coisas da idade, Major!
Certa noite, tomava uns “engasga gato” com Joel (amigo de verdade que hoje mora no céu), no barraco de Zé Preto de Maria Presente, alí na Rua Genézio Rodrigues. De repente, chega Marinete. Já havia circulado por todos os bares da cidade. Aí, tome cachaça e conversa. Lá pelas tantas, chega o jeep da polícia. Lotado! O Major Marinete, naquele momento, estava no seu cochilo rotineiro ( ele sempre adormecia, quando se aproximava o momento da quota). Os policiais, arrojados, foram logo adentrando ao recinto. O Sargento era uma “simpatia!” —–Avisei: ‘ Major, a polícia chegou.’ Marinete, despertou do seu cochilo tático, abriu os olhos, e com sua voz etílica: ” Sargento, recolha os homens à companhia, agora! O Sargento olhou para todos os lados, deu meia volta, entrou no jeep e foi embora. O velho Marinete, sempre alegre, falou bem alto: ‘Major”. Este era seu grito de guerra, no mundo que era só seu.
Depois da retirada da polícia, fiquei pensando: ‘ Se não fui preso hoje, jamais adentrarem uma cela de qualquer cadeia neste mundo de meu Deus. Explicação para que não fôssemos, sequer corrigidos ( termo usado no meio policial), pelos policiais: ‘No momento que citei o nome Major, o militar acreditou que estivesse frente a um superior, e respeitando a hierarquia, preferiu bater em retirada. O Sargento entendeu, que alí estava um Major de verdade. Depois dessa, entendi que jamais seria preso. E, se o Sargento, resolvesse solicitar nossa documentação? Com certeza, no mínimo, seriamos molestados pela homem da lei.
O velho boêmio das noites catoleense, tinha o costume de adormecer, quando se aproximava, a hora de pagar a despesa. Aí, era aquele sono. Depois que ingeria umas boas “bicadas”, ele fechava os olhos e tome cochilo. Só acordava, quando os companheiros de farra já estavam bem longe. Mas certo dia, o tiro saiu pela culatra. Assim que o Major “adormeceu” os colegas de cachaça, saíram de um em um, silenciosamente. Quando Marinete, acordou do cochilo, o vale estava em cima da mesa, esperando seu pagamento. O Major olhou… aí falou: “Cadê a turma, Major?”—– O dono do boteco, já conhecedor da artimanha do velho Lobo dos bares, falou: “Eles falaram que hoje é seu aniversário, e você pagasse a conta.”Antônio piscou um pouco tonto, em virtude do choque recebido e: “Major!” Depois dessa peça, aplicada pelos companheiros, nunca mais, ele dormiu em mesa de bar.
Tive oportunidade de visitar o sítio Mendonça (morada do Major), outras vezes. Uma, para comprar garrafas vazias (difícil ali, era encontrar garrafas cheias). Nesse dia, ele prometeu-me um carneiro de presente. O tempo passava e o carneiro nada. Sempre que o encontrava, eu perguntava pelo caprino. Aí, ele dizia que o carneiro havia morrido de enfarte. E assim, dizia: Major, o bicho estava muito gordo. Enfartou!
Às vezes que fui ao Mendonça, ficava sempre curioso com uma situação. O chevete verde de sua propriedade, estava sempre perto da plantação de coqueiros, que ficava às margens de um riacho, ali localizado. Aí, indaguei o motivo, pelo o carro ficava distante de sua casa. De pronto, ele afirmou: ” Major, a gasolina só dá prá chegar até alí.” Esse era o Major! Na verdade, ele perdia o controle da direção, e ficava sempre com o veículo preso à lama ou na água. Até chegar em casa…Era uma festa!
Antônio da Marinete, era um pecuarista bem conceituado. Era dono de um rebanho bovino, bastante conceituado. Nas horas vagas, que eram muitas, os bares passaram a ser o seu novo mundo. Seu nome ficou estampado, no folclore cachaciano (existe?) de nossa cidade. O Major, foi marca registrada dessa figura simpática e folclórica.
O Major Marinete, circulava pelas ruas de nossa cidade, quando ele, ” carregado” de caranguejo, abalroou um poste da rede de energia, situada nas imediações de uma das praças de nossa cidade. Aí, foi aquele tumulto. O Major, sempre calmo, permaneceu dentro do seu velho parceiro de cachaça, quando um curioso (desses “enxeridos” de plantão), falou:” O Major, bebeu?”——Ele: ” Não Major, foi excesso de poste!” Aí, deu aquela risada! Esse era o Major Marinete!
Sua propriedade, o Mendonça, era vizinha da fazenda do médico, Dr Antônio Benjamin, outra figura folclórica, do nosso município. Certo dia, o Major foi abordado pelo médico fazendeiro: “Seus bodes estão invadindo minha propriedade. Quero que você tome as providências. Se continuar assim, vou agir!—–Com sempre, Marinete não titubeou: ” Major Benjamin, não tem quem possa com esses bodes. A única saída, é você levar meus bodes para o seu sítio, para que eles roubem aqui nas minhas terras.” O velho médico, irritado, pigarreou, deu uma baforada no cigarro e foi embora. Marinete com sempre, com o sorriso estampado no rosto, ainda falou: ” Major, ninguém segura esses bodes!”
Ah! Figuras interessantes, assim como o Major Marinete, já não existem. Que falta eles fazem! Major!