Em 1985 eu comecei a ministrar aulas de educação física na Escola Estadual José Osias na cidade de João Dias. Encontrei uma cidade pequena, talvez, seiscentos habitantes, e uma comunidade totalmente desprovida na área esportiva. Eu, professor recém formado, com uma certa bagagem em Catolé do Rocha, onde já tinha participado de várias ações esportivas, e com muita vontade de trabalhar. Entrei de corpo e alma em prol do desenvolvimento esportivo daquela comunidade.
Encontrei muitas dificuldades na terra de São Sebastião, onde o poder público não participava de nenhuma ação nesse setor. Ficava tudo na responsabilidade do professor, que ainda por cima residia em outro município. Nos primeiros anos,viajava no carro que transportava os outros docentes de Catolé para João Dias.
A aula de educação física era realizada no quinto horário ( após as aulas das outras disciplinas), o que obrigava-me a realizar as competições neste horário, e aí acontecia um fato interessante: Como este espaço era destinado às competições,os motoristas da zona rural iam embora. O mesmo acontecia com o carro que transportava os professores. Eu, era obrigado a adiar ou deixar alguém coordenando a competição.
Passei muito tempo realizando competições internas( levava do apito até as camisas para que os jogos acontecessem). Era tudo difícil. Em João Dias não existia quadra de esportes. Depois de um certo tempo, foi construída uma quadra descoberta. Alegria! Eu continuava insistindo para que as competições acontecessem. Tarefa difícil, mas eu não desistia! Tive o apoio de algumas pessoas: Naim, Salinho(falecido), Sebastião Abdias(falecido), Jornildo e outros que foram fundamentais na minha ingrata, mas importante missão. Também existiam aqueles que só queriam atrapalhar. Mas os venci também.
As dificuldades davam-me forças para continuar lutando. Minha vida foi sempre assim! Não era agora que eu ia desistir. Estava numa terra estranha, sofrendo com a interferência dos invejosos.
O tempo passou, e aí surgiu a figura de Paulo de Tarso, prefeito jovem, com uma nova visão, que trouxe novos tempos para a cidade de João Dias. Começamos então, uma nova etapa, ainda timidamente, participando de competições em Catolé do Rocha( eu morava aqui. Ficava mais fácil), principalmente no futsal. Conquistamos o torneio do BNB. Alguns nomes começaram a se destacar: Manoel Neto, Bibi, Sebastião Kelson, Valterline e outros, que tiveram um papel importante na implantação do futsal na cidade serrana.
Existia um desafio muito forte: Participar dos JERNS(José Escolares do Rio Grande do Norte). Aí apareciam os obstáculos: Desde a resistência dos pais, até o desinteresse eo medo por parte dos alunos. Então, procurei incentivá-los e conscientizá-los da importância de participar de tão grandiosa manifestação esportiva escolar.
Nossa participação no início foi tímida. Mesmo tendo bons valores, sofremos muito, por conta da timidez de nossos alunos atletas. No primeiro ano, perdemos todos os jogos. No ano seguinte tivemos uma participação razoável. Em quatro jogos, perdemos dois e vencemos duas partidas. Jamais, deveremos esquecer alunos atletas que abriram espaço espaço para uma caminhada positiva: Josivaldo,Júlio César, Freudismar, Nicodemos e outros, abriram as portas para outras equipes.
Através de muito trabalho, onde mesmo nos domingos, logo cedo, de bicicleta eu ia realizar os treinamentos. Alguns atletas, mesmo morando em João Dias, faltavam aos treinos. Eu nunca desisti. Continuei minha caminhada. Precisava incentivá-los. Nunca usei a vaidade nas vitórias. Só pensava em desenvolver o esporte na pequenina terra de São Sebastião.
Uma nova geração surgiu na Terra de Paulo de Tarso ( esse era amigo de verdade e incentivados por natureza). Eram garotos que mostravam qualidades. Fizemos um trabalho grandioso, mesmo com os invejosos de plantão metendo o BEDELHO. Conquistamos excelentes resultados: Vice-campeão dos JERNS na categoria mirim na modalidade de futsal; Campeão de futsal na categoria infantil; Vice-campeão de futsal na categoria Juvenil (Em Pau dos Ferros). Ainda fomos campeões na modalidade de futsal, categoria Mirim nos Jogos do Colégio Francisca Mendes em Catolé Do Rocha e Conquistamos o título de campeão, também no futsal nesse mesmo torneio, de forma invicta e goleando nossos adversários. Nomes como: Marcos, Sostenes, Sócrates, Robson, Roberlando,Marciel,Elenilson e outros que formaram uma das boas equipes do alto oeste Norte-Riograndense.
O tempo passou. Os JERNS não eram mais os mesmos. Nossa equipe também! Foi criada a regional de Umarizal. Ainda fomos campeões no futsal, naipe feminino.
Ainda falando nos JERNS, lembro de um fato interessante: Quando cheguei em João Dias, não existia ainda o transporte escolar. Os alunos se deslocavam a pé para suas localidades. Eles iam caminhando ou correndo. Muitos alunos eram donos de uma boa condição física. Então pensei: ‘ Por que não colocar esses alunos na modalidade de atletismo?’ Armei um esquema. Preparava o treinamento ( escrito à mão)e entregava para eles. Sabia que muitos não realizavam os treinos. Mas seus treinos eram feitos naturalmente. Eram fortes e corajosos.
Coloquei a Escola Estadual José Osias na modalidade de atletismo. No primeiro ano de competição, Conquistamos algumas medalhas. No ano seguinte Conquistamos 58 medalhas. Isso despertou a atenção dos professores e coordenadores dos jogos. Cursos de atletismo foram realizados. Surgiu uma nova mentalidade em relação ao atletismo. As escolas evoluíram nesta modalidade. Em João Dias, ocorreu o inverso. A chegada do transporte escolar e as festas de rua, ocasionaram uma mudança radical nos jovens locais. Uma decadência imperou no esporte. A nossa última delegação foi para os JERNS com apenas dez( 10) atletas.
Agora, eu entendia tudo. Não adiantava insistir. A minha vontade era bem mais fraca nesta luta desigual, onde o som das bandas de forró nas noites de João Dias, alegraram os jovens e entritescia um professor vencido, mas ciente de ter cumprido seu dever, perante Deus e a comunidade Joaodiense.Eu sei que no pódium da vida, os troféus e medalhas estão vivas nas mentes daqueles que participaram de uma luta grandiosa, em prol de uma comunidade carente e acolhedora.
Depois de tudo isso, lembro de um cidadão local que no período dos jogos, sempre perguntava quando eu passava na praça da matriz: “E lá como foi?”——-Aí eu respondia: ‘Ganhamos!’ —–Ele prontamente dizia: “Já sei que os outros não prestavam”. No outro dia, a mesma pergunta e eu dizia: ‘Perdemos ‘——Ele: “Já viu João Dias ganhar de ninguém homem “. Eu continuava minha caminhada em direção à casa dos caboclos (residência de Paulo de Tarso), pensando mesma pergunta e qual seria minha resposta no dia seguinte. Ganhar e perder…estão na minha vida. Era, e ele, será que continua me esperando? Perdermos! Eu sem João Dias …mas no jogo da vida, fomos e somos vitoriosos. Valdeci, o homem das perguntas foi testemunha.
Saudades da terra de São Sebastião!
Professor Pedro Neto (Professor Lé): João Dias