Ex-diretor de futebol venceu Augusto Melo e Mário Gobbi na eleição disputada no último sábado
Eleito presidente do Corinthians no último sábado, após vencer Augusto Melo e Mario Gobbi, Duilio Monteiro Alves terá uma série de desafios no cargo. Não só ligados ao futebol, mas também administrativos e financeiros do clube.
Duilio terá pouco mais de um mês para se preparar para a missão, já que só tomará posse em 4 de janeiro (dia seguinte ao clássico contra o Palmeiras, pelo Brasileirão).
1. Dívida
A situação financeira do Corinthians é complicada. Embora tenha conseguido colocar em dia o salários dos jogadores, o Timão tem tido dificuldades para fechar as contas. Até o fim de setembro, o clube registrava um déficit de R$ 6,2 milhões no ano.
A dívida está na casa dos R$ 920 milhões e deve aumentar até o fim do ano. Para piorar, a maior parte tem que ser paga no curto prazo. As obrigações com vencimento em até um ano estavam em R$ 567 milhões no último balanço apresentado, mês passado. O valor é maior do que todo o faturamento do clube em 2019 e possivelmente também do que a arrecadação de 2020.
O novo presidente precisará renegociar débitos e alongar essa dívida, além de aumentar as receitas e diminuir as despesas.
2. Qualificação do elenco
A temporada alvinegra não é das melhores. Vice Paulista, o Corinthians foi eliminado nas primeiras fases disputadas na Libertadores e na Copa do Brasil. No Brasileirão, o time se recuperou, mas ainda não se livrou da luta contra o rebaixamento.
Por isso, é de se esperar que haja uma reformulação no elenco em 2021.
É possível que o departamento também passe por uma reformulação administrativa. O gerente Vilson Menezes e os diretores-adjuntos Eduardo Ferreira e Jorge Kalil devem deixar os cargos.
3. Clube social
Embora o futebol seja o carro-chefe do Corinthians, a área social tem muita importância para o clube (até porque é dele que saem os votos).
Durante a campanha, Duilio fez promessas de melhoria no Parque São Jorge, como por exemplo a instalação de gramado sintético na Fazendinha.
Juntando o clube social e demais esportes, o Timão tem prejuízo desde 2011. Ou seja, recursos do futebol acabam sendo direcionados para outras áreas.
4. CT da base
A obra, que se arrasta há anos, está adiantada, mas ainda restam acabamentos e mobiliários em alguns locais.
Além disso, falta construir o alojamento com 160 leitos, parte principal do projeto. Com ele, o Timão poderá abrigar o triplo de garotos que tem atualmente.
Espera-se que, após a finalização da CT, o Corinthians consiga revelar mais jogadores e, consequentemente, lucrar mais com as categorias de base.
5. Marketing
Por conta da pandemia de coronavírus, alguns patrocinadores do Corinthians suspenderam pagamentos e outros rescindiram contratos.
Até setembro, o clube tinha arrecadado R$ 55,2 milhões com patrocínio e publicidade, cerca de R$ 18 milhões a menos do que no ano passado.
Além de buscar anunciantes que paguem mais, o novo presidente alvinegro tentará “turbinar” o contrato com o Banco BMG, patrocinador máster, na qual o Timão tem ganhos variáveis.
6. Fiel torcedor
A ausência de público nos estádios fez com que milhares de torcedores deixassem o programa de sócio-torcedor do Timão. Segundo o presidente Andrés Sanchez, há alguns meses, houve uma redução de 30% nos membros do Fiel Torcedor. Porém, o número aumentou desde então.
O último balanço financeiro do ano, até setembro, apontou que a arrecadação do clube com os sócios ainda é baixa: R$ 12,3 milhões (incluindo prêmios e loterias).
Já o contrato com a Nike, fornecedora de material esportivo, não deve ser uma preocupação. Ele vai até 2029.
7. Neo Química Arena
Embora o atual presidente, Andrés Sanchez, tenha deixado um acordo encaminhado com a Caixa Econômica Federal pelo financiamento do estádio, Duilio também terá muito o que fazer.
O Corinthians busca formas de aumentar os ganhos com a Arena, seja com camarotes e cadeiras ou com a venda de produtos e serviços no local.
Durante a campanha, foram prometidas melhorias para os torcedores, como a oferta de internet Wi-Fi de alta velocidade.
8. Sub-23
Criada no ano passado, a categoria gera controvérsia entre torcedores, por contratar muito e nunca ter revelado jogadores para o time profissional.
Boa parte dos contratos do elenco se encerra no fim deste ano.
Durante a campanha, Duilio se disse a favor da categoria. Resta saber se ele manterá a estrutura montada por Andrés, com o conselheiro Jacinto Antonio Ribeiro no comando da categoria.
9. Futebol feminino
O grande desafio do próximo presidente com o time de futebol feminino será manter o alto padrão do elenco em comparação com as demais equipes. Em 2020, Andrés Sanchez optou por profissionalizar o vínculo de todas as jogadoras.
Assim, os contratos passaram a ser em carteira de trabalho, com recebimento também de direitos de imagem, além de salário, é claro. Com isso, a folha salarial do elenco praticamente dobrou.
10. “Sombra” de Andrés
Duilio terá como um de seus desafios superar a sombra de Andrés Sanchez, seu principal apoiador, construindo sua própria história dentro do clube e aumentando sua força política.
Diretor de futebol durante toda a era recente de Sanchez, Duilio não deve ter a participação do veterano em sua gestão. Andrés, além de dizer a pessoas próximas que está esgotado e saturado do clube, também havia retornado à presidência para resolver a questão da Arena.
Por Ana Canhedo e Bruno Cassucci