O município de Aguiar, no sertão da Paraíba, está se preparando para entrar em conexão com o universo. A cidade de pouco mais de 5 mil habitantes, segundo os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi escolhida para receber o radiotelescópio Bingo (Baryon Acoustic Oscillations from Integrated Neutral Gas Observations, em inglês), projeto internacional liderado pelo Brasil, em parceria com outros oito países: China, Coreia do Sul, Reino Unido, França, Espanha, Alemanha, África do Sul e Suíça.
A intenção do telescópio é ajudar a esclarecer dois fenômenos ainda misteriosos da cosmologia e da astrofísica: a energia escura e as rajadas rápidas de rádio (em inglês, fast radio bursts – FRBs).
O coordenador-geral do Bingo, Élcio Abdalla, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), conta que o projeto está alinhado a uma ciência de vanguarda. “A pesquisa sobre cosmologia hoje é muito concentrada no setor escuro do universo – que é a pergunta, talvez, mais relevante da física. O universo tem 95% de parte escura que não consegue ser explicada e o Bingo, através da observação, pode dar vínculos muito relevantes para esta questão”, explica. “Ele pode indicar se há ou não uma estrutura complexa desta parte escura. Pode ser algo muito simples, como fluidos distribuídos no universo, como pode ter uma interação – o que implicaria em uma verdadeira revolução, em termos de conhecimentos físicos”, diz.
Sobre as rajadas rápidas de rádio, que também foram descobertas nos últimos 20 anos, Abdalla diz que o Bingo será capaz de propor sugestões sobre o que seriam estas fontes tão intensas e misteriosas de energia no Universo. “Será um segundo problema de enorme interesse no caso da astrofísica”.
Para uma missão desta grandeza, é preciso ter um céu limpo e sem tantas interferências eletromagnéticas. É aí que entra Aguiar, localizada no Vale do Piancó e distante cerca de 400 quilômetros da capital, João Pessoa. A cidade foi selecionada após buscas por locais que atendiam esses requisitos, tanto no Brasil quanto no Uruguai.
“Tem que ser um local com uma enorme pureza de observação, porque é uma observação dificílima. O que vamos observar são de 30 a 40 ordens de grandeza menor do que tudo que nós vemos. Por isso não pode ter nenhum ruído eletromagnético. No sertão da Paraíba, é excelente fazer isso, além de termos no estado uma interação muito boa com a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), com equipes excelentes na área”, justifica Abdalla.
Além da participação da UFCG, o projeto conta também com pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O Bingo, que terá apoio de outro radiotelescópio (batizado de Uirapuru), deve entrar em testes ainda este ano e em operação até o final de 2022. Para acompanhar todos os passos do projeto internacional, basta acessar o site do Bingo.
Agência Brasil
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